quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Golfinhos e a civilização

Bem vindos, a ideia deste blog é que, há algum tempo tenho tido a infeliz ideia de ter ideias. O grande problema com as ideias é que quando não as colocamos para fora, elas vão se acumulando na cabeça como aquela gosma que fica no vidro do carro quando se atropela uma mariposa na estrada. Quando não ligamos o limpador de parabrisas e espantamos as ideias para fora, chega uma hora em que não vemos mais nada, senão ideias espatifadas na nossa frente. E com o tempo ou extinguimos as ideias, ou deixamos que elas saiam pra brincar.
Eu escolhi a segunda opção, simplesmente porque não me livro da ideia de ter ideias...

Aqui vai a primeira delas:






Recebi o seguinte email e fiquei pensando sobre ele:

"MONSTRUOSO

....Dinamarca, uma vergonha
O mar se tinge de vermelho, entretanto não é devido aos efeitos climáticos da natureza.

Se deve a crueldade com que os seres humanos (ser civilizado) matam centenas dos famosos e inteligentíssimos. Golfinhos Calderon. Isso acontece ano após ano na Ilha Feroe na Dinamarca. Deste massacre participam principalmente jovens Por que? Para demonstrar que estes mesmo jovens já chegaram a uma idade adulta, estão maduros Em tal celebração, nada falta para a diversão TODOS PARTICIPAM DE UMA MANEIRA OU DE OUTRA, matando ou vendo a crueldade “apoiando-a como espectador”. Cabe mencionar que o golfinho calderon, como quase todas as outras espécies de golfinhos, se aproxima do homem unicamente para interagir e brincar em gesto de pura amizade.

Eles não morrem instantaneamente, são cortados uma ou duas vezes com ganchos grossos. Nesse momento os golfinhos produzem um som estridente bem parecido ao choro de um recém-nascido. Não há compaixão, até que este dócil ser sangra lentamente e sofre com feridas enormes até perder a consciência e morrer no seu próprio sangue.

Finalmente estes heróis da ilha, agora são adultos racionais e direitos, já demonstraram sua maturidade.

Basta Encaminharemos este e-mail até que o mesmo chegue alguma associação de defesa dos animais, não leremos somente. Isso nos transformaria em cúmplices, ESPECTADORES.
Cuide do mundo, ele é sua casa!"



Resolvi pesquisar na Internet para conhecer o outro lado da moeda.


Descobri um questionamento feito ao Parlamento Europeu sobre o assunto, e algumas outras informações.


Pensando no assunto brotaram as seguintes ideias:


Não acho que seja uma vergonha nacional para a Dinamarca que ocorra esse tipo de pesca, afinal é tão ruim, e feio, quanto o abate de gado em um abatedouro. E acho estranho pois vi esta semana mesmo uma propaganda de uma companhia de criação de gado que se vangloriava pela sua produção e pelo Brasil ser, em outras palavras mais bonitas é claro, o curral do mundo. Vergonha nacional é comprar voto de pessoas humildes com o dinheiro do contribuinte (vide todos os programas bolsa-alguma-coisa, inclusive recentemente o bolsa-celular, e não, eu não estou brincando, isto existe), como nosso dignissimo "O cara" fez.


Esta forma de pesca é parte da industria de pesca local, e esse cardume de golfinhos não é atraído para a praia para brincar, e sim são cercados por barcos e levados até a praia onde podem ser pescados.


Os jovens participam pois este será o trabalho deles para a vida toda, e não simples diversão ou para provar que estão maduros.


Os golfinhos fazem "um som estridente bem parecido ao choro de um recém-nascido.", unicamente porque este som agudo é sua forma natural de comunicação entre eles, o som só é agudo por que o agudo é mais facilmente percebido, e chega mais longe que um som grave dentro água. Se não fosse por isso o som poderia ser qualquer um, desde uma buzina de um transatlântico ou um toque de celular.


Só lembrando: A "baleia" orca (freewilly), é tambem um tipo de golfinho, e também é comumente chamada de baleia assassina. Então não duvido que se um desses pescadores der mole com a perna, não vá tomar um mordidão de um golfinho...


Depois de pensar nisso percebi o porque este tipo de email me deixa irritado: Não pela matança, porque fazemos isso até com a nossa própria espécie (vide todas as guerras, sejam mundiais, locais, ou no transito), então já era de se esperar que fizéssemos o mesmo com outra, mas me irrita a forma tendênciosa com que o assunto é tratado, apelando pro lado emocional, e não discutindo racionalmente.


Muito pior que este tipo de pesca, que é bem seletivo, é a pesca de arrasto, que acaba com recifes de corais, e pega qualquer coisa pela frente, e depois selecionam só a espécie de peixe que lhes interessa, jogando ao mar já sem vida um numero incontável de peixes, tartarugas, golfinhos ou qualquer coisa que estivesse nadando na região.


E isso ninguém fala nada.


Então não acredito que "Basta Encaminharemos este e-mail até que o mesmo chegue alguma associação de defesa dos animais, não leremos somente. Isso nos transformaria em cúmplices, ESPECTADORES. Cuide do mundo, ele é sua casa!". Isso com certeza só basta pra gastar energia elétrica enviando SPAM pro correio eletrônico dos amigos, e pra aliviar nossa consciência egoísta de que somos ligados a causa ambiental.


Ninguém procura saber de que forma o pescado que compra no supermercado é pego ou criado. Ninguém quer saber encima de qual ambiente natural o boi que compra foi criado, e muito menos de que floresta saiu a madeira que foi usada na fabricação da própria mobília (lembrando-se que até se for feita de madeira de reflorestamento, inicialmente neste local havia um bioma natural que foi derrubado pro plantio deste reflorestamento).


Também não concordo com a ironia sobre sermos civilizados, pois realmente o somos, pois o significado de civilizado no Dicionário Aurélio é, como adjetivo, "Que tem civilização" ou "bem-educado, cortês, urbano, civil" e como substantivo masculino "Individuo que tem civilização".


Esse é exatamente um retrato da nossa civilização.